Priscilla Brossi Guitierre*
Logo no início a força do texto mostra-se presente. Frases – como a descrita acima – sobre azulejos brancos mostram uma das muitas facetas desse baiano, dono de uma história rica e uma prosa sedutora.
Sim, pois Jorge Amado é o criador de Gabriela, Dona Flor, Tieta e outros tantos (quase cinco mil) personagens. Mas também teve uma carreira na política. E tratou de questões como mestiçagem e diferenças de classes sociais de forma única. Muito mais que a Bahia, ele revelou o Brasil do povo, suas nuances pitorescas, bem-humoradas e também injustas.“Jorge Amado e Universal”, exposição em cartaz até 22 de julho, no Museu da Língua Portuguesa, é uma oportunidade ímpar para conhecer a vida, a obra e o olhar do escritor sobre o Brasil.
A leveza e informalidade das instalações instigam a curiosidade do visitante. As telas com fotos de Pierre Verger, desenhos de Carybé, músicas de Dorival Caymmi ajudam a ambientar. Daí em diante, estamos no mundo de Jorge: os personagens, os livros, as notícias da política que saltam aos olhos como que saindo dos jornais rodando na gráfica; o Brasil multirracial; as cabines que convidam a “espiar” o erotismo na obra do escritor; as frases compostas no alinhamento de garrafas de azeite de dendê, as fotos e mais fotos em molduras que se assemelham espelhos; os objetos e mais objetos.
Há também espaço para as correspondências, com inúmeras cartas recebidas por Jorge Amado de diversas personalidades do mundo, como François Mitterrand, ex-presidente da França, e a Yoko Ono, só para citar exemplos. Uma carta, no entanto, chama a atenção pela delicadeza e simplicidade. A que Dorival Caymmi enviou a Jorge quando ele e Zélia estavamem Londres. Eisalguns trechos:
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Jorge irmão, são 11h30 da manhã e terminei de compor uma linda canção para Iemanjá, pois o reflexo do sol desenha seu mato em nosso mar, aqui da Pedra da Sereia (…)
Ontem saí com Carybé, fomos buscar camafeu na Rampa do Mercado, andamos por aí trocando perna, sentido cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de 15 e havia um ocre na parede de uma casa, nem te digo (…)
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Quem ainda não programou uma visita pode aproveitar as férias para conferir. A exposição fica no Museu da Língua Portuguesa até o dia 22 de julho.
Depois segue para Salvador para celebração do centenário de nascimento de Jorge Amado, em 10 de agosto.
► Veja o nosso especial multimídia em comemoração aos 100 anos de Jorge Amado
Museu da Língua Portuguesa
Praça da Luz, S/Nֻ – Centro
Terça a domingo – das 10h às 17h
Entrada: R$ 6,00 – gratuita aos sábados
Informações: 3326-0775
Crédito das imagens desta matéria: divulgação