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Trabalho

Alternativas acadêmicas

By 23/02/2017No Comments

Por Claudia Cezar*

Para ganhar 10 mil dólares, quantos meses os professores da educação básica precisam trabalhar?

Em 2015, graças à pesquisa científica, brasileiros na Educação Básica receberam este valor em 3 dias1º vídeo. É que eles apresentaram suas pesquisas científicas para concorrer a prêmios na ISEF, a International Science Enginnering Fair (Feira Internacional de Ciência e Engenharia), realizada nos Estados Unidos há quase 70 anos. Mas se você está pensando que somente fizeram tamanha conquista porque são alunos de colégios altamente renomados, precisa conhecer os motivadores resultados de 20102. Quando vemos algo pronto, como é este caso da FEBRACE, a Feira Brasileira de Ciências e Tecnologia realizada pela POLI da USP, que existe há quase 20 anos, nos esquecemos de que tudo começa pelo primeiro passo, do absolutamente zero. Eles receberam 10 mil dólares em uma competição de 3 dias, mas se prepararam por 2 anos, sob orientação acadêmico-científica de mais de um professor e, nessa oportunidade, os alunos que representaram a escola foram os vencedores. É importante perceber que os projetos não são exclusivos das áreas de robótica ou física e podem até ser bem simples, relacionados à realidade dos alunos, da escola e do bairro onde estão, como este que, embora simplista é ao mesmo tempo fantástico, por isso se tornou um projeto finalista da FEBRACE 20173.

Começar do zero significa aproveitar o ensino por projetos, por solução de problemas e aprofundá-los, instigando os estudantes a levá-los para mais adiante. Os alunos gostam muito de estudar por projetos, mas se frustram quando descobrem que ele acaba ali, na data de entrega ou vai, no máximo, para a feira de ciências do colégio. As reclamações sobre a falta de motivação dos alunos para os estudos estão diretamente relacionadas a ausência de desafios! Como já explicaram educadores como Paulo Freire, José Pacheco, Rubem Alves e tantos outros, o conhecimento precisa afetar o estudante4. Afetar no sentido de emocionar, de entusiasmar! Particularmente adoro esta frase de Friedrich Nietzsche: “o conhecimento é o mais potente dos afetos”, base para o livro “O mais potente dos afetos” do filósofo carioca André Martins da UFRJ. Mas vamos deixar claro que os bastidores de um projeto pré-universitário que ganha 10 mil dólares exigiu mais do que 2 anos de preparação porque contou, também, com a longa e vasta experiência do professor orientador.

Tanto como pesquisador quanto orientador, pois ambas as funções são bastante diferentes na teoria e na prática e, por isso, o caminho começa com o educador se tornando, primeiro, um pesquisador. Deveras, o percurso pode ser longo, mas sentimos os ânimos renovados se percebermos que cada etapa significa subir um degrau porque, se você assistiu ao vídeo, identificou que a premiação é o último passo nas muitas etapas da FEBRACE para se chegar ao ISEF. Pessoalmente eu já era animada bem antes disso tudo, porque sei que o conhecimento é um ativo tão bom, se não for melhor, que o próprio dinheiro.

Se você quer entender melhor sobre este assunto, pode começar com o livro “Pai Rico Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki. Penso que, sabedor de que o conhecimento científico enriquece, o SINPRO-SP, atento com as necessidades financeiras dos professores, dentre outras, há 5 anos vem incluindo em seu Congresso Pesquisa do Ensino a sessão científica Trabalhos, onde os participantes podem apresentar comunicações, relatos e pôsteres das pesquisas e estudos que desenvolvem em sala de aula. Uma oportunidade ímpar de aprender e compartilhar informações preciosas que só favorece a nós mesmos, profissionais da educação.

Para finalizar, quero enfatizar que a pesquisa científica só é difícil e chata quando fingimos fazer o que não sabemos porque, sendo a pesquisa um instrumento simples para solucionar problemas, quando bem utilizada traz grandes alegrias! Para comprovar minha tese, compartilho que eu acredito tanto que a pesquisa científica deve acontecer nas salas de aula do ensino básico, realizadas por professores em regência, que em 2000 construí meu projeto de doutoramento mostrando isto7 pela Pesquisa-ação AENE. Com esta pesquisa que já tem mais de 10 anos, venho aumentando o valor dos professores que se diferenciam da média e auxiliando inúmeros escolares em São Paulo e no Brasil, inclusive na FEBRACE, onde sou avaliadora voluntária desde 2011.

Agora, se você leu este texto até aqui, tem algumas das principais qualidades necessárias para se tornar um professor pesquisador! E se ainda não enveredou pelo mundo científico, pode começar dando um primeiro passo porque acredito que o SinproSP está de portas abertas para te apoiar e orientar neste mundo maravilhoso que é a pesquisa do ensino. Afinal, o conhecimento, dentre as inúmeras riquezas no mundo (o dinheiro, a saúde e o tempo), é o principal instrumento de trabalho de quem é professor e gosta de aprender.

Tornar-se proficiente em pesquisa científica é, sem dúvida, uma excelente estratégia para se destacar no mundo educacional. Então, percebeu as vantagens de fazer pesquisa científica em sala de aula? Sentir vontade de estar neste mundo, em meio a todos estes processos, é o primeiro passo para começar! Vamos para o próximo?


Leituras Ampliadas

O Brasil na Intel ESEF 2015 (versão curta)

O Brasil na Intel ESEF 2010 (melhores momentos)

Projeto finalista da FEBRACE 2017 – Escola estadual de Alagoas

Rubem Alves fala sobre a Escola da Ponte

3º Congresso Pesquisa no Ensino – CONPE: O ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL 1


Claudia Cezar é Doutora em Nutrição Humana (USP), Mestre em Nutrição e Metabolismo (UNIFESP), Especialista em Fisiologista do Exercício, Medicina Psicossomática e Métodos de Treinamento Físico. Foi professora e pesquisadora no Centro de Práticas Esportivas da USP e banca de mestrado e doutorado na UNICAMP, USP e UNICSUL. Atualmente é docente e pesquisadora no IPEPCOH, ministrando cursos e palestras por todo o Brasil. É autora convidada nos livros:- Obesidade, Editora Grupo Gen; Corpo alteridade e Sintoma, Editora Vetor; e Adolescência e Saúde, publicado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo

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