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Educação

Como foi mesmo que tudo começou?

Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Quem somos? De onde viemos? O que fazemos aqui? Quem nunca parou para pensar sobre as razões e condições especiais que, afinal de contas, nos garantem o privilégio (único?) de habitar esse universo infinito (talvez apenas um entre tantos outros)…? Pois é justamente essa a indagação que guia as reflexões feitas pelo filósofo e jornalista Jim Holt, no livro “Por que o universo existe? Uma história de detetive existencial”, ainda não publicado no Brasil. Em entrevista recentemente veiculada pelo programa “Milênio”, da Globonews, o autor contou que o título da obra é a mais precisa tradução do trabalho que ele procurou desenvolver – uma profunda investigação e um estreito diálogo com as diferentes áreas do saber (Filosofia, Matemática, Física, Religiões) – para tentar desvendar um enigma que é tão antigo quanto instigante. “É o nosso maior mistério intelectual. Foi um processo bastante libertador”, revelou ao repórter Jorge Pontual.

Na conversa, Holt começou pontuando as divergências entre as narrativas religiosa e científica a respeito da origem do mundo. Ele lembrou que, para a primeira, deus teria, do nada, criado o mundo. Para além do divino, a ciência sustenta a ocorrência do Big Bang, a grande explosão inicial, a partir da qual teriam surgido os planetas, estrelas e todos os demais elementos do universo. O problema é que há uma pergunta que volta, como bumerangue: quem teria coordenado aquelas leis e feito originalmente as partículas que teriam se concentrado, até que a pressão foi insuportável e um estouro fenomenal espalhou poeira cósmica por todos os lados? Conduzido dessa maneira, e emparedado muitas vezes pelo fundamentalismo religioso de um lado e pelos ateístas militantes de outro, o debate chega a um impasse. Trava. Empaca.

O filósofo e jornalista revelou então que, na elaboração do livro, decidiu explorar possíveis respostas para o mistério, ultrapassando os limites das tais explicações tradicionais, superando a dualidade ciência x religião. Acabou recorrendo a dois princípios: o da simplicidade, que obviamente vai sempre procurar as hipóteses mais elementares para explicar os fatos, e o da totalidade, que lida com o universal, o absoluto. Para ele, o que se deve esperar não é o nada, uma realidade muito simples para tratar da existência do universo. Também não podemos esperar encontrar o mundo mais completo, em que todas as peças se encaixem e se tornem realidade. “Trabalhamos com algo intermediário, entre os dois, uma espécie de realidade infinita, confusa. O que acontece é que vivemos num buraco cheio de lixo cósmico”, definiu.

Longe da perfeição

Ele não hesita em afirmar que, se deus tivesse mesmo feito o universo, este teria de ser perfeito – mas estamos muito distantes disso. De outra forma, lembra que a identificação experimental do Bóson de Higgs, anunciada no ano passado, basicamente serviu para fazer do universo um lugar ainda mais confuso, pois quebrou a ideia de simetria e deu massa a algumas partículas, mas tirou a massa de outras. “Quanto mais conhecemos as leis da Física, mais o universo torna-se complicado”, destacou.

Provocado pelo repórter, o autor não se furtou a falar sobre a ideia dos multiversos. Disse que há cada vez mais evidências a mostrar que o Big Bang foi provavelmente um acontecimento local, que já se manifestou várias vezes. E que nós vivemos nesse multiverso, com muitos outros universos sendo criados ao mesmo tempo. Dessa maneira, amplifica-se também a chance de existirmos. Para ele, se há vários universos, alguns devem ter a temperatura certa e as condições e qualidades que permitam a vida complexa, o ser humano. “É uma maneira de a ciência responder à religião”, confirma. Ele reconhece que não podemos observar diretamente os tais outros universos, já que estão separados do nosso por regiões de espaço que inflam mais rápido que a velocidade da luz, mas lembra que há provas indiretas da existência deles, como a radiação cósmica de fundo, chamada de “eco” do Big Bang. “Também não podemos ver, a olho nu, os átomos. Mas sabemos cientificamente que existem”, compara.

Valorizando mais as dúvidas que impulsionam saberes do que as respostas prontas que travam a aventura do conhecimento, Holt chega ao final da conversa reforçando que “o incrível sobre refletir a respeito do mistério da existência é que esse exercício obriga você a analisar várias culturas, todo o conhecimento humano. Não se pode deixar nada de fora, tem que se ver o pacote inteiro. Procurei fazer isso num livro com 300 páginas”, concluiu.

Assista aqui à entrevista completa

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