Publicado originalmente no
Jornal dos Professores em 2001*
Nem só de versos vive a obra de Cecília Meireles. A grande poetisa fez também diversos textos em prosa que só recentemente começaram a ser conhecidos em sua totalidade. Isso porque esse material andava disperso em jornais, revistas, arquivo da escritora e depois de um período de pesquisa pouco a pouco vem sendo publicado.
“A ideia de reunir a obra em prosa de Cecília Meires em volumes específicos já vinha sendo alimentada pela Editora Nova Fronteira há algum tempo, com o trabalho de algus pesquisadores. Mas efetivamente se concretizou em 1998, quando a editora nos procurou, confiando-nos a ingente tarefa”, diz Leodegário A. Azevedo Filho que é o organizador da coleção obra em prosa e também professor universitário no Rio de Janeiro.
A coleção deverá ter, ao todo, 22 volumes. Alguns já foram publicados, sendo o primeiro deles “Crônicas Gerais – volume 1” em 1998. Azevedo Filho explica que o material fornecido pela editora e pela família de Cecília foi o ponto de partida para a criação de um planejamento editorial que abrange os seguintes volumes: “Crônicas Gerais” (três tomos, sendo um deles já publicado); “Crônicas de Viagem” (três tomos, todos já publicados); “Cronicas de Educação e Folclore” (cinco tomos, o primeiro deles publicado em maio de 2001); “Tipos Humanos e Personalidades” (a sair); “Entrevistas, Conferências e Ensaios Gerais” ( a sair; cinco tomos provavelmente) e “Vária” (a sair; terá cinco tomos).
Educação
Nas décadas de 30 e 40, Cecília Meireles escreveu diversos textos sobre educação em jornais. Ela mantinha uma página no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, com noticiário, artigos e entrevistas e uma coluna conhecida como “Comentário”. Cecília também escreveu crônicas na coluna “Professores e Estudantes”, do jornal carioca A Manhã, fez conferências e participou de congressos. Azevedo Filho explica que diante da grande quantidade de textos encontrados sobre o tema educação, foi preciso criar um critério de seleção para organizar “Crônicas de Educação”, dispondo os textos em núcleos temáticos, eliminando os reiterativos ou reduplicadores.
“As crônicas de educação de Cecília não apenas retratavam as preocupações de uma época importantíssima para própria história da educação no Brasil, mas também são de grande atualidade, pois o ensino brasileiro vive em crise e a busca de soluções adequadas certamente encontrará apoio e inspiração na obra que Cecília Meireles deixou, reflexiva e densa de conteúdo humanístico”, comenta o professor que também é autor do livro “Poesia e Estilo de Cecília Meireles” (editora José Olympio, 1979).
A primeira metade do século XX foi uma época de intensas reformas educacionais. Foi também a época da publicação de um documento conhecido como “manifesto” redigido por Fernando Azevedo e assinado por importantes educadores da época como Anísio Teixeira, M. B. Lourenço Filho, Venâncio Filho, Almeida Junior, Roquete Pinto, Afrânio Peixoto entre outros, além, é claro, de Cecília Meireles.
Azevedo Filho explica que o “Manifesto” defendia a laicidade e nacionalização do ensino; a reorganização da educação popular, urbana e rural; novas bases estruturais para o ensino médio, técnico e profissional; a criação de universidades modernas e atuantes, sobretudo com o desenvolvimento do espírito de pesquisa universitária de alto nível; a obrigatoriedade escolar; o direito à educação integral, seguindo as aptidões de cada um; e a ampla democratização do ensino”. E ainda completa: “a visão de Cecília Meireles sobre a educação brasileira está centrada nos princípios deste manifesto da educação nova”.
Nesses textos Cecília defendia que os estudantes fossem ouvidos sobre as reformas do ensino. Defendia também que os professores tivessem a oportunidade de ter formação adequada e remuneração digna. Como se pode contatar, um pensamento que continua atualíssimo.
Centenário de Nascimento
A editora Nova Fronteira deve republicar “poesia Completa” de Cecília Meireles, em novembro deste ano, quando será celebrado o centenário de nascimento da escritora. “haverá muitas comemorações não apenas no Rio e em São Paulo, mas no Brasil inteiro, pois estamos diante de uma poetisa de projeção nacional e internacional. Alguns críticos, no Brasil e em Portugal, chegam mesmo a considerá-la a mais alta voz da poesia feminina do século XX.
“Portanto, a importância de sua obra em verso e em prosa para literatura brasileira é inteiramente pacífica”, conclui Azevedo Filho.
*Publicação do SINPRO-SP, edição 119 – junho/julho de 2001
Crédito da imagem: Acervo Última Hora/Folhapress