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Educação

O desafio da formação docente

By 25/05/2011No Comments

Formação e capacitação docente foram temas de destaque nas discussões do Congresso de Matemática promovido pelo SINPRO-SP. Claro, não poderia ser diferente. Afinal, são assuntos presentes no cotidiano dos professores e muitas vezes vistos como obstáculos para o desenvolvimento pleno do processo de ensino-aprendizagem nas escolas.

Isso porque parece haver um senso comum de que a formação dos professores na área de Matemática, tanto a inicial como a continuada, não acontece de forma satisfatória. Na avaliação de Nílson José Machado, professor da Faculdade de Educação da USP, no entanto, a crítica que se faz aos cursos de formação é injusta. “Nenhum curso é por si só suficiente. A formação também se dá com a experiência”, disse em entrevista concedida ao Sindicato na noite de abertura do congresso. Ele ressaltou a fragilidade do intercâmbio entre teoria e prática cotidiana.

Para Machado, os professores que chegam às escolas deveriam ser orientados e supervisionados, algo semelhante à residência médica. “O problema é que o estágio é um aspecto frágil desse processo. Na carreira docente, não funciona como deveria”, avalia.

O professor da USP ainda enfatiza: “Não podemos esquecer que muitos colegas trabalham em péssimas condições de trabalho; há aqueles que têm de dar conta de dois, três empregos. Além de boa formação, os professores da área também precisam ter boas condições de trabalho”.

Distância das pesquisas
A pouca relação entre os estudos da área de educação Matemática e a prática em sala de aula também foi ressaltada pela professora Sônia Barbosa Camargo Iglori, da PUC-SP. Em sua participação na mesa-redonda “Didática da Matemática”, ela lamenta que, no Brasil, os professores quase não tomam como referência as pesquisas já desenvolvidas na área para ajudar na sua formação e na busca por soluções dos problemas enfrentados no dia-a-dia com os alunos. Cita como bons exemplos os centros de formação de professores na França que fazem, sim, um bom intercâmbio entre os estudos sobre educação Matemática e a sala de aula. “A pesquisa colaborativa traz boas contribuições”, destaca.

Na análise de Iglori, que é membro permanente em estudos pós-graduação de educação Matemática, não é possível ter bons resultados com o conhecimento fechado. A formação dos professores se dá em um processo contínuo, deve ser permanente. Durante sua fala no congresso lançou como desafios para os professores na atualidade: acompanhar os estudos em novas tecnologias e neurociência. Segundo ela, essas são as duas áreas que mais podem trazer contribuições na educação matemática.

Trabalho colaborativo
A necessidade – e importância – da formação continuada não é propriamente uma novidade para os professores. A questão é que nem sempre as experiências práticas desse processo trazem resultados para uma mudança efetiva no trabalho em sala de aula. “Em geral, esses cursos descontínuos, pois os professores não mudam suas práticas”, explicou Dario Fiorientini, pesquisador da Faculdade de Educação da Unicamp, em sua participação na mesa-redonda “Formação e Capacitação dos Professores”. Ele afirma que é preciso mudar o desafio da capacitação docente.

Fiorentini, que é fundador e coordenador dos grupos de pesquisa “Prática Pedagógica em Matemática (PRAPEM) e do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação de Matemática (GEPFPM), analisou as experiências bem-sucedidas dos grupos colaborativos em que os professores podem construir uma didática baseada na interação, um processo construtivo permanente.
Tomou como exemplo o Grupo Sábado (http://grupodesabado.webnode.com/), do qual é também coordenador, que reúne professores de Matemática, futuros professores e pesquisadores na área. Fiorentini explica que em espaços como esse, há reflexão crítica por parte do professor sobre sua prática e muita troca entre os participantes do grupo. “A teoria deixa de ser o ponto de partida. As possíveis intervenções na prática docente são negociadas e construídas coletivamente”, afirma. “E essas intervenções depois passam a ser objeto de pesquisa e análise do grupo”.

Mal-estar docente
Inevitavelmente, o desinteresse pela docência, em especial na área de Matemática, foi tema de reflexões no congresso. “Ninguém mais quer ser professor”, sentenciou Célia Maria Carolino Pires, da PUC-SP, em sua intervenção na mesa-redonda que tratou de formação e capacitação.
Professora do Departamento de Matemática e Professora do Programa de Estudos Pós Graduados em Educação Matemática, Célia ponderou que hoje se fala muito sobre a qualificação dos docentes na área, com destaque para o fato de que os resultados ruins das avaliações nacionais e internacionais sobre Matemática seriam em parte explicados pelas deficiências na formação dos professores. Ainda que os dados mostrem problemas reais, é preciso colocar em pauta, segundo a pesquisadora, as perguntas: por que há tantas avaliações e o que se faz com o resultado delas?

A pressão em torno do trabalho dos professores, a falta de prestígio e incentivo estariam afastando os alunos da docência. “O desinteresse pela carreira de professor não é um problema só no Brasil”, alertou Célia.

Ao citar o mal-estar docente, estudo do pesquisador espanhol José Manuel Esteve, para apontar os problemas que afetam o ofício do docente, Célia parece ter chegado ao ponto crítico da questão: há muitos desafios para a formação inicial e contínua do professores de Matemática, mas há antes um desafio maior, o de colocar em debate papel do professor na sociedade contemporânea e mecanismos de valorização de seu trabalho.

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