O congresso do SINPRO-SP começou com a Matemática em destaque na mídia. Ainda na véspera do evento, os principais portais noticiosos do país destacavam os resultados da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), aplicada no início do ano em todas as capitais dos estados, em escolas públicas e privadas. E as notícias não eram nada animadoras. Mais da metade das crianças que concluíram a 3ª série do ensino fundamental não conseguia fazer operações simples, esperadas para aquela fase escolar.
O assunto ganhou também as páginas dos jornais, suscitando análises pessimistas sobre a qualidade da educação no Brasil e, em especial, sobre como o ensino da Matemática não consegue avançar satisfatoriamente, avaliação após avaliação. A sensação poderia ser de fracasso, mas o que se percebia nos debates e conversas entre os professores durante o congresso era mais preocupação. Há, sim, deficiências no ensino da Matemática no Brasil. Os resultados mostram isso. “O problema é que nem sempre os dados são contextualizados corretamente, gerando distorções”, disse Ana Maria Porto Castanheira, professora e pesquisadora da Universidade Mackenzie, em entrevista para o SINPRO-SP, logo após sua participação na mesa-redonda “Repensando a avaliação”, que dividiu com a Profa. Edda Curi, vice-coordenadora do Programa de Pós Graduaçãoem Ensino de Ciênciase Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul, e o Prof. Marcos Roberto Celestiano, doutor em Educação Matemática pela PUC-SP.
Castanheira argumenta que as avaliações em andamento são positivas. Ainda que apresentem problemas, segundo a docente, é melhor que não tê-las. O problema é o que se faz com os resultados obtidos, ou melhor, o que não se faz. Afinal, muitos dados já foram publicados, muitos problemas e deficiências detectados, mas onde estão as soluções? “As avaliações deveriam subsidiar políticas públicas, mas infelizmente não é o que se vê”, lamenta.
Buscar sentido nas avaliações
Em sua intervenção na mesa-redonda, Edda Curi também destacou a necessidade de dar sentido para esses processos, em especial as macroavaliações organizada pelo INEP, órgão ligado ao MEC, responsável pelas avaliações e estatísticas da educação nacional. Sem um foco claro sobre o que fazer com os resultados, as avaliações acabam se mostrando inúteis para a escola e para o corpo docente. Assim, tornam-se meros instrumentos de comparação entre instituições, em uma espécie de ranking.
A apropriação das avaliações e de seus resultados por parte dos professores foi apontada como um importante desafio. O problema é que nem sempre os docentes se sentem incorporados ao processo decisório, ou seja: as provas são instrumentos dos quais têm pouca participação, seja na formulação, seja na elaboração de estratégias de soluções a partir dos resultados obtidos.
O envolvimento do professor seria, portanto fundamental.Marcos RobertoCelestino vai além: os decentes deveriam se debruçar sobre as provas, nacionais ou internacionais, para entender quais os erros que estão sendo cometidos e colaborar na estruturação de estratégias e até políticas públicas.
Mudança no conceito
Não só as macroavaliações foram discutidas. O conceito da avaliação em si foi objeto de reflexões durante o congresso. O que se espera com aplicação de um prova qualquer no cotidiano escolar? O que ela representa no processo de ensino e aprendizagem? Foram algumas das questões levantadas.
Celestino destaca que o professor deve, ao elaborar suas avaliações, ter a consciência das competências e habilidade a serem construídos, criar situações didáticas que mobilizem conhecimentos antigos e evidenciem a necessidade de novos conhecimentos e, por fim, valer-se dos resultados obtidos para fazer o planejamento estratégico. “É necessária a integração dos três pilares ‘ estratégias-conteúdos-avaliação’ para o sucesso do ensino aprendizagem”, explica.
Edda Curi concorda. Segundo ela, há um foco muito grande no ensino, um pouco menos na aprendizagem e menos ainda na avaliação. Trata-se de um tripé e os elementos devem ter o mesmo peso, a mesma importância no processo.
“A incorporação da avaliação no cotidiano é um desafio”, explica Ana Castanheira. Assim como também é um grande desfio mudar o conceito do “dia da prova”. Para a professora, a avaliação faz parte da aula, da estratégia de ensino, não é algo a parte. “Hoje é ainda muito complicado desvincular a avaliação da nota”, lamenta. Edda ainda completa: “a avaliação deve ser um processo e não apenas uma medida”.
A mudança de olhar sobre a avaliação e sua importância como um processo, destacam os especialistas, requer envolvimento não só dos docentes, mas toda a comunicada escolar. Como o aluno, a escola e também os pais se comportam diante das avaliações?
E uma esperança surgiu ao final dos debates: de que um dia a sociedade vai considerar o aprendizado mais importante do que uma nota, uma mera medida.
Eis aí um belo desafio não só para área da Matemática.
QUERO ESCREVER ARTIGO NA REVISTA GIZ, COMO DEVO PROCEDER?
OBRIGADA
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