Seja na arquitetura, na engenharia, na geometria e em outras áreas, construir uma base sólida é essencial. Como não poderia deixar de ser, no ensino também é assim. Por isso que lecionar para os pequenos é tão desafiador. Nessa fase, o professor além de transferir o conhecimento é peça essencial para o desenvolvimento da criança. Seja ele no âmbito cognitivo (como a memória ou relação com o tempo), motor (lateralidade e coordenação motora como um todo) e pessoal (escola como promotora da saúde entre outros).
Foi pensando nos mais de 27 mil professores que atuam na Educação Infantil e Fundamental I na cidade de São Paulo que o SINPRO-SP promove em maio o 3º Congresso Pesquisa do Ensino, o Conpe 3, visando instrumentalizar os profissionais que lecionam nessas duas etapas de ensino.
Durante o evento, mesas-redondas, palestras, minicursos e outras atividades, como o Interlúdio – um espaço onde o professor poderá se atualizar profissionalmente e trocar experiências e ideias com os demais, oferecerão aos participantes ferramentas e subsídios acadêmicos para aprimorar o exercício da docência.
Para entender mais sobre o universo da Educação Infantil e o Fundamental I conversamos com a Professora livre-docente da USP, especialista em desenvolvimento humano e coordenadora acadêmica do Conpe 3, Zilma Oliveira, e também com Consultora pedagógica, professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz e vice-coordenadora, Maria Paula Zurawki. Temas como a relação cuidar, brincar, ensinar, inovação acadêmica nestas etapas de ensino e os principais desafios para os docentes trabalham nessas fases, nortearam a conversa com as especialistas.
Confira ao lado as melhores partes das entrevistas:
Revista Giz – Quais são os principais desafios para os professores que trabalham na educação infantil e no fundamental i?
Zilma – Assim como em qualquer profissão, há hoje questões que trazem novos desafios aos educadores: legislações, representações sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes, o impacto das novas tecnologias, novos debates sobre a apropriação da linguagem escrita pelos alunos, a turma de 6 anos no ensino fundamental, o trabalho pedagógico com múltiplas linguagens etc. Dai a importância de se ter um espaço avançado de reflexão e crítica, de apresentação e debate de experiências de modo a enriquecer os professores. Questões como pensar a linguagem escrita com os alunos da Educação Infantil. O que significa ouvir o protagonismo dos bebes, das crianças pequenas, dos pré-adolescentes e adolescentes? Bebês podem participar do planejamento de atividades? Como dar continuidade ao trabalho pedagógico na pré-escola e nas primeiras séries do ensino fundamental?
Maria Paula – Consigo vislumbrar alguns deles. Na Educação Infantil um grande desafio é a própria profissionalização, a construção da profissionalidade específica do professor de 0 a 3 anos. Outro é o trabalho com a alfabetização na Educação Infantil – torna-se urgente discutir o que é alfabetização, que concepções fundamentam o trabalho do professor, que tipo de trabalho pode ser feito, torna-se urgente refletir que aproximar e contemplar o interesse das crianças pela leitura e escrita nessa fase não significa necessariamente abreviar sua infância. Há também o desafio é o da avaliação – como avaliar na Educação Infantil? o que levar em consideração? Avalia-se as crianças, ou avalia-se o ambiente?
É importante que os professores venham, convivam, se coloquem, e saiam do Congresso transformados de alguma forma, fortalecidos em sua prática e assegurados de seu valor e importância na vida das crianças e jovens que ensinam todos os dias.
Já no Ensino Fundamental as dificuldades estão na preparação do professor dos anos iniciais, já que as crianças hoje entram no 1º ano com 6 anos. Além disso, numa época em que vivemos, de mudanças, de questionamentos, de grandes avanços tecnológicos, penso que um dos desafios seja o trabalho com a construção de valores, que se efetiva muito na escola
Para ambos os segmentos, com certeza um desafio é também o das diferentes formas de inclusão que a escola deve contemplar.
Hoje se discute a relação “cuidar, brincar, ensinar” e a transversalidade na educação infantil, o que mudou nos últimos 10 anos nas duas etapas de ensino que o congresso pretende abordar?
Zilma – O papel da escola na promoção da saúde será objeto de mesa-redonda, entendendo saúde como bem estar físico e mental em grande parte promovido pelas brincadeiras. Hoje ainda a indissociabilidade entre educar e cuidar é tema também para o ensino fundamental e não só para a educação infantil.
Maria Paula – Essa relação é importantíssima e vejo que, nos últimos dez anos, a reflexão sobre ela amadureceu. Hoje vejo que a relação entre o cuidado, a educação e a brincadeira não é vista como exclusiva da Educação Infantil e procuram-se formas de contemplá-la também no Ensino Fundamental.
Falando em inovação acadêmica, o que há de novo no congresso?
Zilma – O congresso busca ampliar a discussão de temas como – avaliação, polivalencia, a criança na contemporaneidade, alfabetização na educação infantil e nos anos iniciais, a questão dos valores e inclusão – contrapondo diferentes pontos de vista trazidos por profissionais experientes nesses campos. Para tanto serão apresentados palestras e oficinas sobre estes temas.
Maria Paula – A escolha de temas e a decisão sobre o formato de sua apresentação (mesas-redondas, conferências ou minicursos) procurou atender ao levantamento de desafios contemporâneos e o que poderia interessar os professores de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, hoje. Assim, teremos o privilégio de ouvir vozes como a da Prof. Maria Malta, falando sobre o papel do professor polivalente; teremos espaço para tratar do lugar da saúde e da aprendizagem do cuidado de si, do outro, do ambiente, na escola – tema extremamente importante e ainda pouco discutido; e a questão da escola alinhada à educação em valores, à qual já me referi anteriormente. Além disso, há temas “clássicos” contemplados no Congresso, mas abordados de pontos de vista não tão comuns, como o trabalho com a Língua e a Literatura, os jogos na Educação Infantil e no EF, as Ciências, a Geografia e as Artes.
Hoje vejo que a relação entre o cuidado, a educação e a brincadeira não é vista como exclusiva da Educação Infantil e procuram-se formas de contemplá-la também no Ensino Fundamental.
Qual a importância da participação dos professores em congressos como o do SINPRO-SP?
Zilma – A presença e a participação ativa dos professores no debate pode contribuir enormemente para o alcance dos objetivos do congresso. São eles todos muito bem vindos com seus saberes, suas dúvidas, suas expectativas.
Maria Paula – O SINPRO representa muitos professores de São Paulo e com certeza o Congresso terá bastante alcance. O Congresso foi cuidadosamente planejado e um dos seus objetivos é aproximar a Educação Infantil e o Ensino Fundamental como etapas do ensino básico que se complementam, iluminando a reflexão sobre elas com questões desafiadoras e instigantes. Por isso, e também por ser um fórum de escuta e participação, é importante que os professores venham, convivam, se coloquem, e saiam do Congresso transformados de alguma forma, fortalecidos em sua prática e assegurados de seu valor e importância na vida das crianças e jovens que ensinam todos os dias.