O mundo vive uma época em que conhecimento se traduz em poder. Ciência, pesquisa e tecnologia tornaram-se forças produtivas, capazes de reinserir o homem no cenário econômico, social e político. Com base nessa visão, a professora de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Marilena Chaui, uma das principais referências do pensamento progressista no país, lança suas críticas ao governo Bolsonaro, pelo recorte de seus ataques à educação.
“Mas o que está sendo feito pelo Weintraub?”, pergunta indignada a professora, referindo-se ao ministro da Educação, Abraham Weintraub. “Ele está devastando a educação brasileira, devastando a pesquisa e, portanto, ele está nos tirando da sociedade do conhecimento. Ele nos fará, portanto, apenas servidores daquilo que os criadores de conhecimento farão na metrópole. E nós somos a periferia da periferia.”
Referência também nas discussões sobre estratégias de mobilização da luta em defesa da democracia, a professora afirma que precisamos abandonar a posição de vítimas dos ataques do governo de inspiração totalitária e neoliberal e assumir uma posição de acusação. “Eu acho que cada setor deveria apanhar aquilo em que você tem elementos fortes de acusação e tomar isso como o foco”, diz.
“É uma coisa inominável, no mundo da sociedade do conhecimento, da informática, da cibernética – ele nos transforma nisso, então, é uma devastação fora do comum. Vamos levar várias gerações para refazer o Brasil.”
No último sábado (12), Marilena, que se esmera em defender a importância das acusações sobre o governo Bolsonaro, foi vítima do destempero nonsense do ministro da Educação, que a acusou de ser ‘nazista’. “Prestem atenção. Peguem o discurso dela e comparem com qualquer discurso do terceiro reich. Agora troquem a palavra ‘classe média’ por judeu”, disparou o ministro em uma fala confusa, como é, aliás, a marca do governo Bolsonaro. Em seguida, Weintraub referiu-se Fernando Henrique Cardoso e a Lula como “doenças”.
A relação de Marilena a essa fala foi ponto alto desta entrevista à RBA. Ponto alto não pela importância de qualquer declaração, mas pelos risos que a fala do ministro provocaram durante a entrevista, deixando a professora completamente à vontade para fazer sua análise de conjuntura.
A entrevista foi concedida ontem (15), depois que ela ministrou aula sobre a história da democracia, no seminário Democracia em Colapso?, que a editora Boitempo e o Sesc Pinheiros, em São Paulo, realizam nesta semana.
Confira a entrevista.