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Trabalho

Voz e trabalho: a realidade do professor brasileiro

Fabiana Zambon*

                       A voz é o principal instrumento de trabalho dos professores e com frequência esses profissionais trabalham em situação de risco para a saúde vocal. Salas numerosas, ruído interno e externo à sala de aula, grande jornada de trabalho e falta de informação e treinamento de voz e comunicação fazem parte da rotina dos professores. Devido a essa situação, os docentes apresentam uma alta prevalência de alteração vocal, quando comparados a outros profissionais.

Existem inúmeros estudos sobre problemas de voz em professores em todo o mundo. Em 2004, um grupo da Universidade de Utah (EUA) publicou em uma conceituada revista científica na área de voz (Journal of Voice) a maior pesquisa já realizada sobre a voz dos professores. O estudo investigou 1243 professores das cidades de Utah e Iowa (EUA) e os comparou com um grupo de 1279 indivíduos da população em geral, que não eram e nunca tinham sido professores. Esse grande estudo epidemiológico pode comprovar que professores sofrem mais de problemas vocais relacionados ao trabalho, quando comparado com a população geral.

Há cerca de 20 anos o SINPRO-SP, preocupado com essa questão, começou a oferecer cursos e treinamentos sobre a voz. Em 1993, em parceria com o Grupo de Trabalho em Voz da PUC-SP (GT Voz PUC) e a Associação de Professores da PUC-SP (APROPUC) lançou o filme “O que é bom para o dono é bom para voz”, com orientações destinadas aos professores sobre o uso correto da voz.

Em 2000, criou o Programa de Saúde Vocal com o objetivo de ampliar as ações de prevenção de problemas vocaisem professores. Em2004, o Programa foi expandido e passou a oferecer avaliação, orientação, aprimoramento e tratamento de voz e comunicação. Nessa mesma época, o SINPRO-SP firmou uma parceria com o Centro de Estudos da Voz – CEV, que é uma referência no Brasil em pesquisa sobre a voz. Foi então, que pesquisas sobre voz de professores começaram a ser desenvolvidasem parceria SINPRO-SPe CEV.

Preocupado com a gravidade dos dados da pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos, o SINPRO-SP em parceria com o CEV, com prévia autorização da Universidade de Utah (EUA), decidiram reproduzir o mesmo estudo em professores e indivíduos da população geral de todo o Brasil. Foram investigados 1640 professores de todos os estados brasileiros e 1612 indivíduos da população geral, também dos diferentes estados. Os resultados desse importante estudo podem demonstrar, de forma preocupante, que professores estão em sofrimento vocal e que esse problema tem afetado seu trabalho e as decisões sobre o futuro de sua carreira.

Dos professores investigados no estudo brasileiro, 63% relataram algum problema de voz durante a vida profissional. Quando investigada a relação do problema de voz com as atividades de trabalho, 30% disseram que a voz limita as atividades de trabalho.

Um outro aspecto interessante é que 15% dos professores já tiveram que modificar as atividades de trabalho devido à problemas de voz, como por exemplo, passar um filme ao invés de dar uma aula expositiva. Esse aspecto mostra que muitos professores com alterações na voz seguem trabalhando e buscam soluções paliativas para lidar com esse problema. Um outro dado muito preocupante encontrado no estudo foi que 16% dos professores acham que terão que mudar de profissão no futuro por causa da voz, o que pode ser fonte de um grande estresse para um profissional.

Essa importante pesquisa reforça que professores brasileiros também sofrem de problemas na voz, causando um grande impacto nas suas atividades de trabalho. Dessa forma, ações preventivas na formação e vida profissional de professores se fazem necessárias. É fundamental que esses profissionais tenham informação e treinamento vocal para, então, estarem conscientizados a utilizar estratégias que diminuam o risco de uma alteração na voz. O SINPRO-SP continua trabalhando para colaborar na prevenção de problemas de voz em professores.

Saiba mais sobre a pesquisa

Conheça o Programa de Saúde Vocal do SINPRO-SP

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