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Educação

Reforma questionada

Gabriela Bueno*

                   Oficialmente o Novo Acordo Ortográfico só entra em vigor no Brasil em 1º de Janeiro de 2013. Mas as novas regras já fazem parte do cotidiano da população há algum tempo: a maioria dos jornais, revistas e livros editados por aqui já se adaptou ao Acordo. Nos outros países lusófonos signatários do tratado a realidade é diferente. Isso porque ainda passam por período de adaptação ou não decidiram a partir de quando Acordo vai começar a valer.

Na contramão da ideia de que no Brasil o acordo já foi completamente assimilado, há uma frente contrária à reforma. Exemplo disso é a posição tomada pelos professores Pasquale Cipro Neto e Ernani Pimentel em a audiência pública da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado realizada no inicio de abril. Na reunião os docentes pediram a suspensão na nova forma gráfica e mais tempo para discutir as mudanças no conteúdo do documento.

Segundo eles, o texto do Acordo assinado em 1990 já está ultrapassado. Além disso, devido às suas complexas regras, inviabilizaria a democratização da Língua Portuguesa, que é um dos maiores objetivos a serem alcançados, como estabelece o texto original do documento.

A professora Neusa Maria Bastos, organizadora do 14º Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa, concorda que a implementação de uma nova forma gráfica nem sempre é simples. “Um novo Acordo Ortográfico sempre apresenta dificuldades para os povos aos quais ele se dirige. Mas é válido pois visa à vasta globalização, tem dupla finalidade política: a unidade intercontinental do português e um maior prestígio do português no mundo, por meio da Língua Portuguesa, parte indissociável do imaginário lusófono de nós mesmos (brasileiros) que, unidos e separados, nos fazemos iguais e nos fazemos diferentes, somos nós, sendo outros, constantemente”, explica.

Segundo afirmou, durante a audiência pública da CE, o professor Ernani Pimental, idealizador do movimento Acordar Melhor ( frente contrária, criada em 2009, à reforma ortográfica que tem o apoio de professores e jornalistas ), ainda que o acordo tenha sido assinado por todos os países de Língua Portuguesa, alguns, como Portugal e Angola, estão resistentes à implantação nas novas normas gráficas.

Na análise de Neusa Maria Bastos, que é docente dos programas de pós-graduação da PUC-SP e do Mackenzie, há necessidades diferentes a serem atendidas para cada país que assinou o Acordo. No Brasil apenas 1,6% das palavras sofrerão mudanças; já em Portugal são em média 2%. “Não se pode hierarquizá-los o mais difícil, o menos difícil. O que se pode é afirmar que todos têm sua fase longa de implantação, pois reorganizar o uso escrito é uma tarefa que demanda tempo”, destaca.

Outro problema diz respeito ao Vocábulo Ortográfico de Língua Portuguesa. Durante a reunião da CE Pimentel diz que o VOLP não respeitaria o documento assinado pelos países lusófonos. Segundo o decreto 6.583/2008, que promulga o Acordo, “São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão do referido Acordo” o que não aconteceu previamente a lançamento da edição do ano de 2009 do Vocábulo.

Pimentel também argumenta que o VOLP não seguiria as normas sugeridas pelo novo acordo, como na palavra anidro, que segundo a nova norma deveria ser grafada an-hidro.

Em pesquisa informal feita na página do SINPRO-SP no facebook, mais de 65% dos participantes são contra a implantação do Novo Acordo Ortográfico ou pedem mais tempo para que ele seja adotado.

Ao todo são nove os países signatários do documento. O texto original é de 1975, porém o Acordo foi firmado em1990, a fim de unificar a Língua Portuguesa e extinguir a necessidade de duas normas ortográficas oficiais, uma no Brasil e outra em todos os outros países lusófonos.

CRONOGRAMA DO ACORDO

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