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Trabalho

Tema da aula: Cinema na Escola

By 17/04/20123 Comments


Evandro César Santos*

                               “As tecnologias vêm potencializar a figura e o ofício de educador, que de mero retransmissor de saberes deverá converter-se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências, e memória viva de uma educação que, em lugar de ater-se ao passado, valoriza e possibilita o diálogo entre culturas e gerações.”

Jesus Martín-Barbero

Antes mesmo que o processo de alfabetização formal se inicie nossas crianças aprendem hoje em dia a usar vários tipos de mídias, a TV, a internet e o cinema são exemplos desta aprendizagem.

Meu filho Gabriel que hoje tem 6 anos, desde os 3 anos aprendeu a manipular perfeitamente uma aparelho de DVD, sem saber ler já identificava onde tinha que apertar para ligar, abrir, como inserir a mídia, como configurar a TV para o canal de entrada AV1, e, pelo desenho impresso na capa, escolher o filme que gostaria de assistir. A família é, neste momento, um instrumento importante de mediação nesta relação que a criança está construindo com as tecnologias e, particularmente com o “cinema”, mas, ao atingir a idade escolar, ganha a ajuda da escola nesta relação.

“O cinema é uma ferramenta fundamental, acessível e de alcance muito amplo em relação aos jovens, especialmente, num momento em que a facilidade ao acesso de informações precisa ser mediada. O professor precisa assumir tal função de educar o olhar dessa juventude voraz por informações.”, afirma a professora Meire Oliveira Silva, doutora em Cinema e Literatura.

Como meio, não é demais acrescentar que são inúmeras as possibilidades de trabalho com essa linguagem. Por meio da riqueza de imagens, por exemplo, é possível compreender criticamente o mundo, o comportamento do “outro”, sua cultura, as novas e outras tecnologias e até mesmo novas formas de ler e de conhecer o que não está ao redor ou ao alcance de nós.

De experiência sociocultural para conhecimento escolar

Todos nós passamos hoje em dia pela experiência de ver imagens em movimento o tempo todo, de assistir a filmes, de irmos ao cinema, seja o famoso “cinemão” comercial, o alternativo, o clássico, o popular, enfim, temos algum contato com o cinema seja pela TV, pelo computador ou mesmo na sala escura.

Esta experiência abre um caminho fértil para que o filme seja introduzido nas práticas pedagógicas, pois o aluno já tem alguma referência, mesmo que tímida, sobre o cinema. No entanto, para usá-lo como parte de um processo de aprendizagem é fundamental uma visão do filme dentro de seu processo de produção, seja por meio das escolhas estéticas, dos interesses comerciais envolvidos na produção, e claro os interesses ideológicos dos produtores. O professor que pretende utilizar um filme em sala de aula deve preparar-se levantando todos estes aspectos sem menosprezar os objetivos previstos em seu plano de ensino.

Também é necessário ter um conhecimento mínimo da linguagem cinematográfica, entender o desenvolvimento tecnológico, estudar um pouco da história do cinema e assistir a filmes, por exemplo, do início do século 20 que originaram as grandes escolas de cinema.

A linguagem artística do cinema é uma construção que passa por várias etapas entre elas, a escrita de um roteiro, a escolha de personagens reais ou atores, o tipo de iluminação, os planos, enquadramentos, movimentos no uso da câmera, o tipo de áudio e por fim a montagem das cenas, a edição. Todas estas escolhas vão construindo um filme.

É importante perceber as constantes transformações que o cinema vem passando desde suas origens até os dias atuais, onde o computador tem cada vez mais um papel fundamental na construção do filme.

Uma boa referência para conhecer a linguagem cinematográfica é assistir aos filmes de dois precursores do cinema: David Griffith que pode ser considerado o precursor do chamado “naturalismo hollywoodiano”, e também, Sergei Eisenstein da linha do “cinema dialético”. Também vale a pena ler o texto do Professor Ismail Xavier, o Discurso Cinematográfico, para, ente outros, esclarecer esta construção da linguagem. Claro que não estou aqui propondo que o professor se torne um crítico de cinema e especialista na área, apenas que para uma melhor qualidade do trabalho com filmes em sala de aula é importante ter um conhecimento da linguagem escolhida para a produção do filme.

Como escreveu o professor Marcos Napolitano, “para uma experiência mais ampla do cinema, professores e alunos devem ir além do gosto consagrado pelo mercado e buscar outros tipos de filmes, estilos, escolas, além dos gêneros e clichês do cinema comercial. Este é um grande desafio que pode articular a experiência do cinema como lazer à ampliação dos repertórios culturais de alunos e professores.”

Estratégias e práticas para o uso do filme em sala de aula

O filme, quando exibido na escola, além da função pedagógica, precisa, no mínimo, ampliar o repertório cultural do aluno e nunca deve ser exibido para gastar tempo ou tapar buraco dentro do plano de ensino ou mesmo durante o horário das aulas.

Temos hoje em dia uma grande possibilidade de acesso a filmes e as escolas estão cada vez mais equipadas para este uso. Em primeiro lugar, é fundamental perceber que temos muitas possibilidades de escolhas e não apenas os filmes comerciais, os chamados “blockbusters”. Os alunos ficam normalmente mais eufóricos com os filmes comerciais, que já possuem alguma referência na mídia, os que foram mais assistidos, aqueles que possuem mais recursos tecnológicos, filmem de ação preferencialmente com muita violência, comédias e dramalhões. No entanto quanto mais ampliado o leque de opções, mais diversificada ficará a formação proposta por meio do filme. Normalmente quanto maior a classe econômica, maior a possibilidade destas referências serem mais diversificadas. É papel da escola contribuir para esta ampliação de referências trazendo para a sala de aula títulos chamados por nós de “difíceis” ou mesmo aqueles filmes que precisam da mediação do professor para estabelecer o diálogo entre o currículo, os conhecimentos gerais e também o conhecimento do cinema como uma das linguagens artística.

Nesta linha cada vez mais espaços disponibilizam filmes alternativos, como curtas metragens, filmes clássicos, populares e experimentais. O Itaú Cultural, na Avenida Paulista, por exemplo, empresta gratuitamente uma ampla variedade de filmes, bastando apenas fazer um cadastro. Na internet temos o site do porta curtas voltado ao trabalho em sala de aula é o www.curtanaescola.org.br, onde é possível assistir online os filmes. O site KinoOikos, da Associação Kinoforum é também uma importante ferramenta. Nele você pode assistir e fazer download de filmes, o endereço do site é www.kinooikos.com .

Existe uma grande variedade de curtas disponíveis e este é um formato que merece uma atenção especial dos professores, pois pela sua duração cabe dentro dos 50 minutos de aula, permitindo um melhor com espaço para debater o trabalho na íntegra. Existem ainda os sites pagos como o Netmovies e Netflix que disponibilizam muitos filmes desde clássicos, programas de TV, curtas, mas principalmente filmes comerciais.

O professor José Manoel Moran, descreve algumas formas de usar o vídeo em sala de aula, ele separa em formas adequadas e inadequadas. Nesta última categoria ele descreve o vídeo-tapa buraco, o vídeo-enrolação, o vídeo-deslumbramento, o vídeo-perfeição e categoria só vídeo, onde o professor passa o vídeo e não constrói nenhuma relação com a discussão teórica que vem sendo feito na sala de aula. Como propostas adequadas de utilização ele lista algumas características entre elas: o vídeo como sensibilização, como ilustração, simulação, como conteúdo de ensino, como instrumento de avaliação, entre outras.

Uma estratégia recomendável, segundo a professora Meire Oliveira é “realizar um trabalho de edição para destacar determinados trechos que abordem questões relevantes e discuti-los ao longo da projeção, especialmente para os alunos mais novos, já que fazer uma discussão, apenas ao final do filme, necessitaria de um roteiro minucioso previamente elaborado pelo professor, que já teria feito uma decupagem das principais cenas/assuntos para sintetizar o cerne do debate, estabelecendo, assim, um link com a abordagem veiculada pelo filme.”

O debate sobre quais estratégias utilizar para o planejamento de aulas precisa ser aprofundado principalmente em virtude da falta de formação para este tema nas disciplinas de licenciatura. Poucos são os cursos que se voltam à capacitação e ao aperfeiçoamento no uso de filmes em situação de aprendizagem. Recentemente foi criado na Escola de Comunicação e Artes da USP um curso específico de licenciatura em educomunicação

que visa formar profissionais para trabalharem com a interface entre educação e comunicação. E ainda tem a questão técnica, que muitas vezes os professores não sabem manusear os equipamentos disponíveis na escola para exibição dos filmes, criando uma dependência em alguns casos de técnicos da escola (quando disponíveis) ou de outros colegas que saibam utilizar os equipamentos, ou mesmo os próprios alunos.

Em minha prática de uso do vídeo decidi incorporar nas aulas a produção de vídeo com os alunos, assim é possível ampliar a visão sobre a linguagem cinematográfica, mas esta é uma discussão para outro momento.

3 Comments

  • ana cristina arantes disse:

    Prezados colegas;
    sou responsavel por disciplinas de licenciatura e bacharelado em dois cursos universitários em São Paulo. Em ambos utilizo o cinema para que os estudantes possam ampliar sua visão de mundo, entender a linguagem da 7ª arte (e estudar a especificidade da área) como um valioso recurso. Ministro História da Educação Física e Educação Física escolar.
    Valho-me desde desenhos de Walt Disney, aos franceses, iranianos novos e antigos, os de Taviani e os de Fellini além dos clássicos brasileiros. Somada a essa estratégia utilizo também de outras fontes e mídias para as aulas.
    Tenho alcançado significativo sucesso tanto nas discussões quanto na análise dos conteúdos também como possivel desdobramento profissional dos futuros docentes.
    Tenho alguma bibliografia referente, caso haja interesse, estou a disposição !
    Att.
    Profª Drª Ana Cristina Arantes

  • Olá Professora Ana Arantes, será uma grande contribuição disponibilizar sua bibliografia.
    Atenciosamente,
    Professor Evandro Santos

  • Fátima Ledi Marin Mathias disse:

    Olá Evandro!
    Sou pedagoga, leciono ensino religioso e filosofia, este ano, concordo com você sobre a utilização de filmes para os alunos, ano passado sugeri 6 filmes para assistirem em casa, com a família, foi fantástico o retorno que obtive, foram muitos elogios aos mesmos, que neste ano os alunos pediram outras sugestões.
    Tenho a certeza de que um filme traz uma bagagem importante na vida das pessoas, e uma nova concepção de olhar as coisas com outros olhos.
    Concordo com sua postagem referente a filmes.
    Att
    Fátima Ledi.

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