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Cultura

Culturas Juvenis no século XXI

By 25/08/2016No Comments

Resenha do livro Culturas Juvenis no século XXI feita por Claudia Priore

Quem é o jovem do século XXI? Como lidar com esta geração de novidades tecnológicas, apelo consumista, desordenamento cultural e vivências cada vez mais plurifacetadas? Como entender as transformações deste grupo comprometido pela violência urbana, liberação sexual? Quais os rumos desta juventude contemporânea de valores tão vibrantes? Esta é a discussão central, e tão atual, trazida pelo livro “Culturas Juvenis no século XXI”.

A obra é uma coletânea de artigos, alguns do quais, inclusive, brilhantes, muito bem escritos e embasados, outros nem tanto, que discute os diversos submundos aos quais os jovens são expostos, através de pesquisas tanto nas áreas de comunicação como de cultura. Os organizadores tentaram reunir, em uma única publicação, pesquisas desenvolvidas por programas de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-SP e de Comunicação e Cultura da UFRJ.  O livro é um convite à reflexão para uma melhor compreensão desta nova geração através de análises fundamentadas em diferentes grupos onde é possível encontrar, ao mesmo tempo, singularidades e antagonismos presentes nos diferentes grupos. Os textos discutem, acima de tudo, o modo como os meios de comunicação e as manifestações culturais configuram representações de juventude pautando comportamentos.

O primeiro texto é do autor latino-americano Jesus Martin-Barbero, que enfoca a complexidade do mundo jovem especialmente a partir de dois ângulos – defasagem da escola em relação ao modelo social de comunicação, que foi introduzido pelos meios audiovisuais, e pelas novas tecnologias. Os jovens colombianos que desenvolvem seu protagonismo pelas Ganges encontram no ilegal, na pirataria, a forma de sobreviver e se enquadrar como indivíduo e como grupo. Martin-Barbero destaca a falência da escola na estrutura social que acaba por perenizar a desigualdade e da televisão que introduz uma desordem cultural nas famílias e no ambiente escolar.

Em seguida temos o texto de João Freire Filho que demonstra a participação da mídia na construção das formas e das normas da adolescência e da juventude. Através do estudo de revistas e publicações comerciais voltadas ao público jovem se percebe a construção de uma imagem pública da adolescente ideal (autêntica, responsável, segura de si, emocionalmente equilibrada, saudavelmente preocupada com o visual, atraente para os garotos e admirada pelos colegas.). O texto traz ainda uma análise de quem é este jovem brasileiro que não precisa mais combater a ditadura, nem se sente sufocado pela família e que não tem necessidade sair da casa dos pais para sentir-se livre, pois encontra na tecnologia esta sensação de liberdade e que encontra no consumo a realização pessoal. A atuação da mídia moldando as representações de um jovem ideal, principalmente associado ao consumo. A mesma discussão aparece também nos textos de Veneza Ronsini, Rose Rocha e Josimey Silva.  Aqui a discussão gira em torno da forma como as telenovelas exploram a percepção da pobreza no universo juvenil e da associação da violência das culturas juvenis.

A regressão dos adultos numa tentativa de busca pela fantasia e o prolongamento da adolescência são os aspectos levantados pela autora e organizadora do livro, Silvia Helena Borellli através da análise do fenômeno Harry Potter.

No texto de Angela Prysthon vemos a trajetória dos astros do rock que tiveram a vida precocemente finalizada, no auge de suas carreiras, fenômeno tratado pela autora de hagiografias (mártires quase considerados santos).

Na segunda parte de “Culturas Juvenis no século XXI” temos as produções culturais como Hip Hop e grafite, por exemplo, tratados em artigo escrito por Mariana Araujo e Eduardo Coutinho numa tentativa de colocar a linguagem do cotidiano das favelas e as contradições da realidade por rimas e traços de artistas de rua que se contrapõe as representações opressoras de quem detêm o poder, mostrando um potencial de resistência presente nas ações culturais. O mesmo assunto está presente no texto de Janice Caiafa e Rachel Sodré sobre o grafite no Rio de Janeiro e também no texto de Rita Oliveira sobre os pixadores do Rio e no texto de Rita de Cássia Alves Oliveira sobre os pixadores de São Paulo.

Ainda sobre representações culturais o livro passa pela música eletrônica e do rock retratada pelos artigos de Simone Sá, Marcelo Garson e Luca Waltenberg e por Fernanda Eugênio e João Lemos.  A cultura trash é aqui analisada por Mayka Castellano como uma forma das comunidades jovens de encontrar motivação como a vontade de se distinguir da massa ou o apego ao que é humano. A representação do jovem através do corpo, das roupas e do consumo é o tema discutido por Marcos Rodrigues de Lara. Para ele o homem vem utilizando seu corpo como fiel suporte de ideias.

Adriana Amaral e Renata Duarte trazem o mundo cosplay de jovens que se transformam eu seus personagens favoritos, não apenas no modo de vestir como na sua personalidade. O texto discute um modo de exercitar a teatralidade pública. Neste movimento a juventude não é mais entendida como um período de preparação para a vida adulta, mas sim como um ápice do desenvolvimento.

Não poderia faltar a discussão sobre os telefones celulares e no artigo de Sandra Rubia da Silva encontramos uma pesquisa que demonstra o papel dos celulares na inclusão dos indivíduos numa lógica de modernidade marcada pela conectividade e interatividade. O celular assume um papel importante na construção de imaginários, de identidade e do mundo social.

De modo geral o livro “Culturas Juvenis no século XXI” nos leva a uma visão de como a tecnologia e a comunicação se relacionam com a juventude nos dias de hoje. São abordagens bastante heterogêneas que tratam com mais propriedade dos meios do que dos jovens em muitos casos. Entender este universo tão complexo não é tarefa fácil e, neste sentido, o livro é pertinente, pois integra as três áreas de pesquisa: os meios culturais, os de comunicação e a juventude. Embora os textos nos apresentem caminhos pontuais ou “pistas” para o entendimento do fenômeno juvenil, fica clara a importância de se continuar e se aprofundar nos estudos deste mundo.

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